– Existe

Ninguém me contou, eu vi, aconteceu no domingo. O casal de velhinhos caminhava no Centro, perto da Catedral – eram nove horas da manhã, bom horário para os velhinhos. Mãos dadas, ele bem alto, ela mais baixa, ela de bengala e ele de chapéu, ambos pareciam felizes, nem sei porque pareciam felizes. Atravessaram a rua.

Mas aí apareceu um paralelepípedo mal colocado. O velho, magrinho, talvez ruim da vista, bateu com o pé esquerdo na pedra e o chapéu voou para um lado e o senhorzinho para o outro, ele fez que ia conseguir arrumar o passo e manter o equilíbrio, mas não conseguiu. Largou a mão da esposa e caiu estatelado no chão. Vinha um carro na direção deles.

A velhinha, então, colocou-se em frente ao marido, protegendo-o. Fez um gesto para que o carro parasse ou diminuísse, e este não fez nem uma coisa nem outra – apenas desviou e o motorista ainda gritou impropérios aos velhos, como se a culpa fosse deles.

Ela ajudou o marido a se levantar, “foi só um susto”, disse. Parecia tranquila, talvez estivesse acostumada com os paralelepípedos mal colocados. Ele verificou se tinha quebrado alguma coisa, não tinha; ela recolocou o chapéu na cabeça dele, deu-lhe um beijo e os dois seguiram a caminhada de mãos dadas.

Sou sentimental e às vezes vejo coisas e significados onde não existem, mas nesse domingo, no centro da cidade, não tive dúvida. Presenciei algo comovente e raro. Porque, sinceramente, não sei se quero algo além disso: alguém que me ajude quando eu tropeçar.

Alguém que me conheça tão bem e tão fundo que não se desespere com os tombos da vida porque estará acostumada com a minha desatenção. Uma pessoa que da mesma forma e com a mesma confiança me veja como um porto seguro e saiba que estarei ali, a qualquer momento, para lhe estender a mão e lhe dizer: “vem comigo, vamos em frente”.

Deixe seu nome e telefone (com DDD) para receber as novidades que estão por vir:

Crônicas Amarelas, Histórias que abraçam

É proibida a reprodução total ou parcial dos textos publicados neste site, em
qualquer meio, sem prévia autorização do autor.

Siga @cronicasamarelas no Instagram

Fale com o autor: fernando@cronicasamarelas.com.br