– Vendedor Viajante

Valéria, leitora das Crônicas Amarelas, me contratou para escrever um livro sobre o pai dela.
– Quero que fique mágico – ela disse.
Lá fui eu atrás da magia, sem saber se iria encontrá-la. E se o homem fosse um chato? E se a vida dele fosse aborrecida e previsível?

Valéria mora no Canadá, o pai dela em Balneário Camboriú, e eu em Florianópolis. Em abril do ano passado, peguei o ônibus e fui conhecer o meu personagem. Osny Serpa me recebeu de braços abertos, sorrisão feliz, já fazendo piada. Percebi, neste primeiro encontro, que tinha diante de mim um jovem de 83 anos, apaixonado pela vida, com talento incomum para contar histórias.

Menino pobre, começou a trabalhar cedo na Sulfabril, onde cuidou da granja nos fundos da fábrica, lavou banheiros e foi office boy. Com a maioridade e a confiança do patrão, tornou-se caixeiro-viajante e conheceu o Brasil a bordo de um fusca branco. Nessa época, casou, teve dois filhos, mas ficou viúvo ainda jovem.

Refez a vida afetiva, virou representante comercial, montou a própria empresa, ganhou muito dinheiro e o título de “Rei das Camisetas”. Tudo ia bem até o dia em que o maior desastre natural da história de Santa Catarina destruiu sua casa e sua empresa.

Há muitas vidas numa vida; difícil e inútil escolher a mais importante. Somos todos um emaranhado de qualidades e defeitos que mudam a todo instante e a todo instante nos surpreendem. Ainda assim, identifiquei algo raro e fascinante no modo como ele encara as muitas vidas que viveu.

Osny tem a capacidade de levar a sério o que é lúdico e de ver graça nas coisas sérias. Este é o fio que liga cada um dos capítulos do livro Vendedor Viajante, as incríveis histórias de Osny Serpa, editado pela Dois Por Quatro, que será lançado em Balneário Camboriú no dia 22 de março.

É um livro, mas parece um filme de gêneros diversos: tem aventura, comédia, ação, romance e drama. Se a gente pensar bem, todas as vidas rendem um livro. Nem todas, porém, merecem um livro. A vida de Osny, com certeza, merece.

Se ficou mágico, caberá ao leitor dizer. Emocionante ficou, isto eu garanto.